quinta-feira, 7 de julho de 2016

Benefícios da musicoterapia para crianças e adolescentes com Autismo

Estudos recentes têm comprovado a eficácia do processo clínico musicoterapêutico e do uso da música com pessoas com Autismo, principalmente em relação aos aspectos de comunicação e interação social.
A Musicoterapia consiste em um processo sistemático de intervenção no qual o terapeuta ajuda o paciente a promover sua saúde utilizando experiências musicais e a relação terapêutica. Na Musicoterapia, o paciente vivencia a música de forma ativa através de atividades de audição, performance, composição e improvisação musicais sendo que a seleção destas atividades é determinada pela necessidade clínica do paciente bem como por suas habilidades desenvolvidas e potenciais, gostos, histórico e ideias sobre a música, conjugados com a abordagem teórica e metodologia clínica adotadas pelo terapeuta.
Pesquisas recentes em neurociências têm trazidos novas luzes sobre a estrutura e funcionamento do sistema nervoso de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), incluindo o modo como esta população processa a música. A utilização destes conhecimentos fornece novas explicações a respeito do modo pelo qual a música pode ser utilizada no contexto de uma relação terapêutica para promover melhora da saúde bem como para subsidiar novas abordagens clínicas de tratamento, diagnóstico e avaliação do processo terapêutico de pessoas com TEA.
Os principais objetivos clínicos musicoterapêuticos possíveis com a pessoa com TEA: entrar em comunicação, partindo do nível em que a pessoa se encontra;
  • Desenvolver e/ou ampliar a capacidade de autoexpressão;
  • Diminuir ou extinguir comportamentos patológicos indesejáveis, tais como isolamento, hiperatividade, autoagressividade, estereotipias, tensões emocionais, desorganizações da linguagem etc.;
  • Romper barreiras impostas pelos comportamentos obsessivos, ajudando a pessoa com autismo a assimilar mudanças e variações;
  • Ultrapassar ou remover obstáculos emocionais e/ou cognitivos existentes; desenvolver um senso de fluxo temporal;
  • Desenvolver e ampliar a comunicação através de uma linguagem não-verbal que requer compreensão, codificação e decodificação de símbolos convencionalizados;
  • Desenvolver a comunicação e a interação social, dentre outros.
SAMPAIO, Renato Tocantins; LOUREIRO, Cybelle Maria Veiga; GOMES, Cristiano Mauro Assis. A Musicoterapia e o Transtorno do Espectro do Autismo: uma abordagem informada pelas neurociências para a prática clínica. Per musi,  Belo Horizonte ,  n. 32, p. 137-170,  Dec.  2015 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-75992015000200137&lng=en&nrm=iso>. Acesso em  30  Maio  2016

Fonte: http://www.reab.me/beneficios-da-musicoterapia-para-criancas-e-adolescentes-com-autismo/

terça-feira, 17 de maio de 2016

Residências Terapêuticas - Relatos dos moradores



Agradeço a Deus todos os dias por poder fazer parte da vida dessas pessoas, ou melhor, por elas fazerem parte da minha vida, pois a cada sessão de musicoterapia sinto-me evoluir junto com cada um deles nesses nossos encontros de almas.

Sou muito grata à toda equipe e muito feliz por fazer parte dela.
Parabéns à todos que se dedicaram para a realização deste lindo documentário realizado pelo curso de enfermagem da Unifenas (Alfenas-MG).

"18 de maio - Dia Nacional da Luta Antimanicomial"


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ciência e música: destruição de células cancerígenas




"A relação entre a ciência e a música pode ser encarada como algo muito consistente, e seu início coincide com o próprio aparecimento da ciência moderna. A música, por se tratar de uma atividade com raízes que se entrelaçam com conceitos da física e da matemática, estimula a realização de investigações científicas sobre as suas propriedades. Uma equipe do Programa de Oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenada pela biofísica Márcia Capella, demonstrou a interferência de algumas músicas clássicas em diversos parâmetros celulares, incluindo a viabilidade celular.

No processo, células MCF-7, de câncer de mama humano, expostas à Quinta Sinfonia de Beethoven e à Atmosphères de Ligeti, apresentaram resultados semelhantes: uma em cada cinco células expostas às músicas durante um intervalo de meia hora, morreu. Outra composição musical também foi aplicada, a “Sonata para dois pianos em ré menor” de Mozart, mas não gerou alterações na viabilidade celular. Todas as três composições, contudo, foram capazes de alterar o ciclo regular e alguns outros parâmetros celulares das amostras. A pesquisa utilizou também células renais MDCK, de cachorro, e células K562, de leucemia humana, porém sem estas apresentarem resultados semelhantes ao visualizado no caso das células do câncer de mama humano.

Segundo Márcia Capella, o resultado em si não é de todo surpreendente: “já existem diversos artigos mostrando que frequências sonoras audíveis interferem no crescimento de células em cultura, com a atividade de enzimas intracelulares e com a estrutura de algumas proteínas da membrana celular”. Artigos como Effect of sound wave stress on antioxidandt enzyme activities and lipid peroxidation of Dendrobium candidum e A pilot study on the effect of audible sound on the growth of Escherichia coli, publicados no Colloids and Surfaces B, são exemplos de estudos ligados ao tema. A diferença entre estes estudos citados, assim como muitos outros, e a pesquisa realizada pela equipe do Programa de Oncologia da UFRJ é que no lugar de serem utilizadas frequências puras, foi feito o uso de música, que do ponto de vista físico pode ser classificada como um somatório de diversas frequências sonoras.

Quanto ao uso da técnica na medicina, Márcia Capella explica que é muito cedo para saber se será possível aplicar em humanos. “Falar de uma possível aplicação em humanos nesse momento ainda é pura utopia”, diz a pesquisadora. A utilização da música já ocorre como terapia auxiliar em diversas doenças, mas não com um caráter curativo. É o caso da prática da musicoterapia, que, aplicada por um musicoterapeuta qualificado, busca desenvolver potenciais de um grupo ou indivíduo de forma que seja alcançada uma melhoria na qualidade de vida. Já no caso específico da pesquisa com as células de câncer de mama, é necessário um aprofundamento nos mecanismos do fenômeno observado, além de ser preciso que as condições de cultura de células sejam otimizadas. A partir daí, se for o caso, passar então para os estudos com cobaias.

Contudo, os resultados da pesquisa se mostraram satisfatórios, levando em conta que não era esperada a morte de células cancerígenas, e sim padrões de alterações metabólicos nas mesmas. Questões como o motivo de sinfonias tão diferentes apresentarem resultados semelhantes, e se o efeito final foi resultado das músicas como um todo ou de elementos isolados como o ritmo, o timbre ou a intensidade, ainda precisarão de mais estudos para que sejam respondidas.

Márcia Capella analisa da seguinte forma: “nossos estudos ainda são básicos e respondem uma pergunta muito simples. Se diversos artigos na literatura científica mostram que frequências sonoras audíveis interferem em diversos parâmetros celulares, poderia a música intervir também? Estamos vendo que sim”, conclui a pesquisadora."


* Fonte: Inteligência Musical ; https://www.facebook.com/intmusical/ 
* Publicado originalmente pela Agência UFRJ de Notícias e retirado do site Mercado Ético.

domingo, 30 de agosto de 2015

Morre Oliver Sacks, explorador da mente e a tolerância


O neurologista Oliver Sacks enfrentou nos últimos meses a tarefa mais difícil com que qualquer pensador poderia lutar, sobretudo alguém que dedicou toda sua obra a tentar entender o funcionamento da mente humana: explicar sua própria morte. Em fevereiro, Sacks anunciou em um artigo que sofria de câncer terminal e, neste domingo, faleceu em Nova York aos 82 anos de um câncer de fígado. Teve tempo de publicar suas memórias, On the Move, e escrever uns poucos textos na imprensa em que, com sua característica mistura de humor e lucidez, explorava as certezas da vida quando já sabia que lhe restava pouco tempo aqui embaixo. Uma frase daquele primeiro texto inesquecível, intitulado Sobre Minha Própria Vida, que publicou no The New York Times em meio a uma comoção global, resume suas reflexões: “Acima de tudo, fui um ser com sentidos, um animal pensante, neste maravilhoso planeta e isso, em si, foi um enorme privilégio e uma aventura”.
Sacks, que nasceu em Londres em 1933, mas passou grande parte de sua vida profissional nos Estados Unidos, deixa um punhado de livros inesquecíveis como O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu, Vendo Vozes: Viagem ao Mundo dos Surdos, Um Antropólogo em Marte, Com Uma Perna  e Alucinações Musicaise, sobretudo, muitos pacientes cuja vida ficou muito melhor depois de passarem por suas mãos. O falecido Robin Williams, ator cuja mente genial e frágil poderia tê-lo convertido em um de seus personagens, interpretou-o no cinema no filme Tempo de Despertar, de Penny Marshall, que recebeu três indicações para o Oscar em 1990.
Em seus ensaios, Sacks pretende explicar o que nos torna seres humanos, a estranha viagem entre a mente e algo que poderíamos chamar de alma, nós, cada ser individual. Como funciona a memória? Por que e como vemos? O que significa poder ouvir, escutar o que nos rodeia? O que são o amor e o desejo sexual?
O milagre da identidade positiva
Sua grande contribuição foi aproximar milhões de leitores em todo o mundo daqueles que a sociedade se empenha em tratar como diferentes e que Sacks sempre considerou iguais. Ajudou-nos, com textos extraordinariamente divertidos, a compreender a imensa complexidade da mente humana e nos permitiu vislumbrar a forma como todos aqueles que muitas vezes preferimos ignorar enfrentam o mundo. “Não quero parecer sentimental diante da doença. Não estou dizendo que seja preciso ser cego, autista ou sofrer de síndrome de Tourette, absolutamente, mas em cada caso uma identidade positiva surgiu após algo calamitoso. Às vezes, a doença pode nos ensinar o que a vida tem de valioso e nos permitir vivê-la mais intensamente”, explicou em uma entrevista a este jornal em 1996.
Oliver Sacks nasceu em Londres e viveu na capital britânica os bombardeios nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Sobre essa experiência escreveu um grande artigo, publicado no The New York Review of Books, com o título Fala, Memória, em que explicava os complexos mecanismos da memória e a capacidade dos seres humanos para gerar lembranças inexistentes que ao final são tão sólidas e reais como as autênticas. Sua carreira científica se desenvolveu nos Estados Unidos – mas nunca chegou a ser cidadão americano – e se ganhou fama como médico nos anos 1960 por causa de seus ensaios sobre o mal de Parkinson (precisamente a história que conta em Tempo de Despertar). Seus livros proporcionaram a ele um reconhecimento mundial.
É difícil selecionar algum de seus personagens acima de outros. O autista que se aproxima da linguagem através do desenho – “O artista autista” em O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu – pode servir para resumir sua forma de conceber a medicina e a literatura. O paciente se permite escrever a Sacks: “Ser uma ilha, estar separado, é inevitavelmente uma morte? Pode ser uma morte, mas não inevitavelmente. Porque embora se tenham perdido as conexões horizontais com outros, com a sociedade e a cultura, pode haver conexões verticais, intensificadas e vitais, conexões diretas com a natureza, com a realidade, sem influências”. Seu personagem conseguia essas conexões diretas através de sua capacidade de desenhar. Seu desafio como cientista era dar-lhe uma oportunidade, procurar formas de orientá-lo e conseguir que encontre uma vida plena em sua diferença radical. Esse foi sempre seu objetivo como cientista e como escritor.
Em seu obituário, o The New York Times conta um caso que resume muito bem sua forma de ver o mundo: recebia 10.000 cartas por ano, mas respondia sempre “aos menores de 10 anos, aos maiores de 90 e àqueles que estavam na prisão”. Escreveu seu último artigo no início de agosto, intitulado Minha Tabela Periódica: lamentava ao mesmo tempo tudo o que ia perder na iminência da morte – explicava que já se encontrava muito doente – ; mas também celebrava a densidade de sua existência. E não pensava em se render: “Queria me divertir um pouco fazendo uma viagem à Carolina do Norte para ver o maravilhoso centro de pesquisa sobre lêmures da Universidade Duke. Os lêmures estão próximos à estirpe ancestral de que surgiram todos os primatas, e eu gosto de pensar que um de meus próprios antepassados, há 50 milhões de anos, era uma pequena criatura que vivia nas árvores não tão diferente dos lêmures atuais. Eu adoro sua vitalidade saltitante e sua natureza curiosa”.
Sua obra é uma descomunal lição de solidariedade, que segue a fundo o princípio que Atticus Finch, protagonista do romance O Sol é para Todos, de Harper Lee, explica a seus filhos como grande lição de vida: “Você só conhece realmente uma pessoa depois de calçar seus sapatos e caminhar com eles”. Sacks nos obrigou a caminhar com muitos sapatos – os de um cego, os de um pintor que perdeu a percepção de uma cor, os de um autista, os dos surdos – e o fez de forma extraordinariamente divertida. O fato de que, como contou recentemente, sua mãe o amaldiçoar quando confessou a ela sua homossexualidade, certamente influiu de maneira profunda na tolerância com a diferença que marca todos os seus ensaios. Mudou a forma de vermos os outros e de vermos a nós mesmos, e isso é algo que se pode dizer de muito poucos autores.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/30/internacional/1440927890_617327.html